Ao sair de casa e pagar o elevador ontem, este para em um determinado andar e me presenteia com a seguinte cena: o pai se despedindo dos seus dois filhos pequenos ao sair para trabalhar. Ele mostrava-se agoniado pelo sentimento de divisão daqueles breves segundos onde alguém aguardava dentro do elevador e ele segurava a porta diante dos filhos que imploravam mais um abraço, outro e outro beijo, o último cheiro, só um segredinho... Nesse ligeiro momento me peguei nostálgica e confesso até um pouco invejosa daquele pai. Que saudade que senti dessas prolongadas despedidas.
Hoje, com filhos adolescentes, as despedidas são quase sussurros, por mais que corra para dar um abraço, eles são bem breves. Os programas já não me cabem mais. Típico e esperado de todo adolescente. Por mais nostálgica que tenha ficado, quando finalmente aquele pai entrou no elevador se desculpando, disse a ele: que delicia, não é? Não se desculpe, viva, viva muito esses momentos, eles são tão importantes e passam tão rápido...
E então também me senti feliz, porque aproveitei tanto cada um deles. Não só os abraços de despedidas, mas os de chegada, os para dormir, os ao acordar, os de presença nas brincadeiras na praça, nos bancos dos teatro, circos e cinemas, nas festinhas da escola, nos jogos no chão do quarto, no meio da noite ao acordar de um pesadelo, nas competições de karatê, nas horas tristes, diante dos seus medos, nas horas das histórias, nas conversas confidenciais, depois das broncas, nos banho de mar, de mangueira, de piscina...
Tantos abraços, tanta presença que nos sentimos saciados para dar conta dessa pausa. Graças a todos esses momentos vividos numa infância marcada pela presença que nossos filhos se sentirão fortes e seguros para desbravar o mundo.
Cai a minha ficha que meu filho não está mais precisando dessas prolongadas despedidas, ele cresceu forte e seguro porque sempre estivemos juntos, nos abraçamos milhares de vezes quando pequeno e hoje eu estou dentro dele, temporariamente “desnecessária”, para viver a sua adolescência plena como lhe cabe. Num futuro breve nossas despedidas talvez possam voltar a ser um pouco mais calorosas e prolongadas, não mais por necessidade, mas por prazer!
Que plantemos as sementes...
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