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Estamos vivendo um período longo de desgosto e descrença com a sociedade em que vivemos. O individualismo, a corrupção, violência, crise econômica, cultura do ódio às diferenças e as polarizações radicais de posições têm cindido relações e propagado o clima de desrespeito, desarmonia e tensão.
O que compõe o mundo em que vivemos? O que é sociedade senão grupo de pessoas que convive e compartilha, num tempo e espaço específicos, relações, valores morais, cultura, regras e normas de conduta que permitem aos indivíduos que a integra o sentimento de pertencimento? Não tenho me sentido pertencente a essa sociedade. Acho-me um pouco estranha no ninho. Mas noto que ao lado e, de certa forma, em um entorno próximo de mim, encontro alguns outros “estanhos no ninho”, buscando sua tribo e um lugar onde possa pertencer e sentir seu.
Na busca por uma educação melhor para os meus filhos e alunos, tentando fazer minimamente a parte que me cabe nesse mundo, tenho encontrado outras pessoas com propósito semelhante, e a essas tenho tentado me filiar para que juntos possamos fazer a mudança que queremos ver no mundo.
Sabe-se que o primeiro grupo social a que todo ser humano faz parte e deve sentir-se pertencente é a família. Dessa forma, proponho algumas reflexões: a nossa família acolhe e favorece a formação de cada membro num clima de cooperação? Estamos construindo um ambiente familiar onde há respeito uns pelos outros e às suas individualidades? Conhecemos as diferentes fases de desenvolvimento que cada um dos nossos filhos se encontra e distinguimos o que é típico e esperado desta e o que é necessário ensinar nesses diferentes momentos? Sentimo-nos conectados com o que somos e com o que são os nossos filhos, vivendo com leveza e alegria, estando inteiros em cada atitude, seguindo, assim, na contra mão da cultura da aparência e do estresse cotidiano? Possibilitamos um ambiente de afeto e segurança, estando disponíveis para fazer pelos nossos filhos o que eles ainda não podem fazer por si mesmos? Conseguimos ser firmes o suficiente para não fazer por eles o que já são capazes de fazer por si mesmos, encorajando-os e desenvolvendo o senso de responsabilidade? Estamos dispostos a suportar a nossa imperfeição e aceitar que erramos diversas vezes, mas que temos humildade suficiente, para voltar atrás e reconhecer para os nossos filhos nossas falhas e nos dispor a repará-las? E igualmente, suportamos os erros dos nossos filhos e aproveitamos essas diversas situações para ensinar-lhes habilidades sociais e de vida?
O que nós pais estamos fazendo para ajudar a mudar o mundo e a sociedade em que vivemos? A nossa família está reproduzindo o modelo social que tanto nos sentimos estranhos: de rupturas, violência, desrespeito, individualismos? Estamos juntos sob o mesmo teto, mas cada um no seu próprio mundo, visando satisfazer as suas expectativas e cobrando pais de filhos e filhos de pais que satisfaçam os seus desejos, em vez das suas necessidades?
Diante dessas questões precisamos refletir e tomar consciência sobre o que aprendemos com os nossos pais, quais foram os modelos de relações que vivemos e o que estamos reproduzindo automaticamente ou transformando de forma consciente na relação com os nossos filhos.
É no seio familiar que começamos a viver as nossas primeiras relações sociais e através delas a aprender sobre quem somos, o que esperam de nós, o que fazemos de bom e de ruim, como devemos nos comportar, o que é certo e errado, o que tem e não tem valor, que mundo é esse em que vivemos, como aprendemos a resolver as nossas dificuldades, com quem podemos ou não contar...
Dispor-nos a sermos pais melhores e nos empenhar a formar filhos melhores, é uma grande contribuição que podemos dar a nossa sociedade e um compromisso com as novas gerações.
A menos que "nos tornemos a mudança que desejamos ver acontecer no mundo", nenhuma transformação ocorrerá. Infelizmente, estamos todos esperando que a sociedade mude, que os governantes mudem, que os empresários mudem... Quando podemos começar a mudança dentro de nós. Dentro da nossa casa, da minha, da sua, da do vizinho e do seu amigo. Nas nossas pequenas atitudes cotidianas.
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