Observo na contemporaneidade como as palavras estão perdendo seu valor e como as relações humanas estão complicadas justamente porque as pessoas não estão sabendo dialogar, cumprir os seus acordos, expor as ideias e escutar as alheias, argumentar e negociar recorrendo fundamentalmente a nossa principal ferramentas - a palavra. A qual nos caracteriza e nos define como humanos. Prometemos e não cumprimos, assumimos e não nos responsabilizamos, combinamos e faltamos, dissemos e não sustentamos, falamos e não nos comprometemos...
Como educadora e estudiosa do desenvolvimento moral reflito sobre como formar gerações onde essas características estejam em minoria. Claro que no processo educativo o exemplo a as experiências vividas nos ambientes em que as crianças estão imersas são peças fundamentais na formação moral. Portanto, a família e a escola têm responsabilidade direta nessa formação.
Observo a dificuldade dos pais em sustentar a sua palavra diante dos seus filhos e na ânsia profunda de não frustrá-los não percebem o dano que estão causando. Muitas são as ciladas que se colocam no dia a dia. Na tentativa de fugir da difícil, mas necessária, tarefa de dizer NÃO empobrecem a sua palavra e acabam por ensinar que o que dizem não tem tanto valor.
Assisto todos os anos no momento da adaptação escolar pais sofrerem com o choro dos pequenos iniciando os seus dias na escola. Por mais que orientemos que eles nunca saiam escondidos é frequente vermos essa cena acontecendo. Fazem isso porque fogem do enfrentamento de deixarem seus filhos chorando. Mas geram a insegurança e angustia neles ao perceberem que os pais que estavam ao lado de repente, sem aviso prévio, desaparecem.
Deixar o filho chorando tem o custo desse sofrimento, mas tem o ganho de ajuda-lo a elaborar que os pais vão, mas voltam e, acima de tudo, que eles não o enganam, por mais que seja difícil a separação, eles voltam, porque disseram isso. O mesmo se aplica quando saem de casa para trabalhar, e em situações semelhantes que os deixam sobre o cuidado de outras pessoas. Outro exemplo acontece quando os pais fazem promessas aos filhos que não vão cumprir. Ou também quando ameaçam com atitudes que sabem que não as realizarão.
Esses são alguns exemplos de situações que os pais vivenciam no dia a dia e dessa forma, sem perceber, ensinam aos seus filhos a fragilidade do que dizem e que o que é dito, nem sempre precisa ser cumprido. Se desejarmos formar adultos comprometidos com as suas palavras e que sustentem e valorizem o que dizem é necessário sermos referência e refletirmos sobre que tipo de modelo está sendo oferecido. Afinal, como cobrar dos filhos uma postura diferente quando adolescentes e adultos se o que é vivenciado segue na contramão disso? Ninguém dá o que não tem! Ou ao menos, é muito mais difícil.
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