Há algum tempo venho refletindo sobre o valor das palavras nas relações humanas, sobre o valor dos acordos, promessas, pactos feito entre as pessoas nas relações pessoais e principalmente nas relações profissionais.
Essa reflexão tem surgido a partir de relatos de amigos, parentes, clientes, parceiros que, diante de algum conflito de interesse ou ideia, ou até mesmo por sentirem-se lesados numa relação, imediatamente partem para a decisão: “vou processar fulano”, “vou entrar na justiça contra a empresa X”, “isso não consta no contrato”.
Confesso que pela minha formação pessoal, em que sempre ouvi dos meus pais que a nossa palavra é o que de mais valoroso possuímos na vida, e que o diálogo entre as partes é sempre a melhor escolha, e também pela minha formação profissional em que estudo há alguns anos sobre o desenvolvimento moral na criança, essa alternativa me causa espanto e me remete imediatamente ao desejo de perguntar a pessoa o seguinte: “Já houve alguma conversa entre as partes? Já se esgotaram as argumentações? As ideias e desejos foram expressos e escutados? O que foi acordado não está sendo validado, por quê?” Ou seja, sempre questiono se já houve uma tentativa de diálogo sobre a questão em pauta.
Algumas vezes ouço uma resposta positiva. Sim, tentativas foram feitas no sentido de esclarecer ou solucionar o conflito dialogando entre as partes. E obviamente quando isso não é suficiente busca-se a instância legal. Se uma das partes não está cumprindo com o acordo, ou seja, se a palavra não está mantida, não está tendo valor, se não está havendo espaço para a escuta dos diferentes sentimentos, interesses, faz-se necessário recorrer a lei. No entanto, na maioria das vezes as respostas têm sido negativas as essas minhas questões e tenho constatado um movimento da supremacia dos contratos sobre as pessoas, das assinaturas sobre as palavras, das leis sobre o diálogo.
O que nos faz humanos e nos diferencia das outras espécies é justamente a nossa linguagem. Onde que nos perdemos na mais antiga arte de dialogar, do olho no olho, da palavra honesta e da escuta atenta e acolhedora? Onde esta a nossa capacidade de expressar os nossos sentimentos e sermos escutados, bem como de escutar os sentimentos alheios e acolhê-los como legítimos? Cadê o interesse genuíno pelo desejo e satisfação do outro além do meu próprio? Por que a falta de cooperação e a cultura do “tirar proveito” têm guiado as relações? Onde estão a confiança, o respeito, a empatia?
Creio que as relações que se baseiam nesses valores são mais leves, mais verdadeiras e mais simples, basta-se acreditar no que se escuta e dizer aquilo que se acredita. Sendo assim, se cumprirão as promessas e se honrarão os acordos porque as palavras têm valor.
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